sábado, 20 de novembro de 2010

letter to the love of my life


aparecerias inesperadamente. sem bater sequer à porta do meu coração e farias da minha vida uma escrava de ti mesmo. arrastarias contigo uma tempestade de sentimentos e emoções. facilmente invadirias todos os poros do meu corpo. serias alguém que eu reconheceria logo à primeira vista. e, num piscar de olhos, farias com que eu perdesse o rumo que a minha vida tomava, o sentido da minha existência. largaria tudo, por um amor louco, talvez doentio. é como se morresse naquele segundo e renascesse para uma nova vida no seguinte.
a verdade é que tu apareceste silenciosamente. eras quase que invísivel, apenas mais um figurante nesta minha peça de teatro à qual dão o nome de vida. passavas despercebido no meio da multidão. afinal, eras um desconhecido. creio que não tive a noção do momento em que te tornaste no que és hoje.
abriste um caminho até ao meu coração e eu não me apercebi. depois lançaste sobre ele uma espécie de feitiço e voilá, rendi-me aos teus encantos, que no fundo não passavam de meras ilusões. fizeste do meu pensamento a tua morada e habistaste nele até ao dia em que atacaste o meu coração. até ao dia em que com essas tuas mãos frias e crueis partiste o orgão que me dá vida. ele sangrou até à morte, ou quase. e hoje não passa de um puzzle por montar, em que as peças andam espalhadas por aí, onde tu as quiseste deixar.
recordo imagens captadas no nosso passado, todos os momentos que marcaram a nossa jornada. os pequenos passos que nos levaram a amar e a elouquecer. agora só me resta rasurar o velho papel onde redigi planos para um futuro que se resumia a "e viveram felizes para sempre". desejei incondicionalmente que transparecessem para a realidade e por segundos fui capaz de acreditar na sua possível veracidade. o nosso amor acabou, ainda que talvez não definitivamente. mas independentemente disso, eu sei que serás sempre uma parte de mim - estás cravado nas minhas impressões e por mais rostos que invadam o meu pensamento, por mais ecos que procurem o meu ouvido, por mais sentimentos que se apoderem do meu coração, és e serás para sempre o amor da minha vida.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

alerta: furacão


acordei e quase não me aguentava em pé. os meus batimentos cardíacos aproximavam-se dos mil por minuto e o coração quase me saltava pela boca. os meus olhos pareciam estar em sintonia com o resto deste meu corpo moribundo, quase que não aguentavam abertos. talvez quisessem fechar-se eternamente ou, quem sabe, tirar-me deste mundo catastrófico.
à medida que o dia passava, sentia-me cada vez mais sufocada por uma corda invísivel mas profundamente dolorosa. talvez o dia de hoje marcasse algum momento importante na minha vida, talvez. corri para o escritório e passei os olhos pelo calendário. dia 15 de novembro de 1999. exactamente 10 anos depois do pior furacão de que há memória. arrasou com tudo: matou milhares de pessoas, famílias inteiras; devastou florestas; demoliu casas e edíficios; e foi tudo tão rápido, tudo demasiado rápido: 10 minutos, nem tanto. mas foi o tempo suficiente para deixar um enorme rasto de destruição.
o fenómeno estava prestes a repetir-se, tudo à minha volta o anunciava. uma grande catástrofe iria pairar sobre a minha cabeça. ninguém iria senti-lo, ninguém senão eu. mas talvez eu também não ficasse cá para contar. logo ninguém saberia, não apareceria nas televisões de todo o mundo nem seria notícia de rádio.
é então que os 10 minutos se resumem em apenas 10 segundos. desta vez 10 segundos é tudo o que basta para que tudo acabe, sem dó nem piedade, para que reste um rasto de destruição ainda maior. e este sim, para mim passará a ser o pior furacão da história do universo.
começa a tempestade, caio no chão desamparada e grito desenfreadamente "alerta: furacão. furacão ao qual dão o nome de amor. socorro, tirem-me daqui." e ao passar por mim, destrói-me completamente. em 10 segundos. e ninguém nota, ninguém dá conta. eu fico ali estática, talvez tenha morrido, talvez não.

"para nos lembrar que o amor é uma doença, quando nele julgamos ver a nossa cura."

domingo, 14 de novembro de 2010

letter to someone that broke my heart


olá meu passado-mais-que-longínquo.
mas porque é que ainda te escrevo? sei que desprezas todas as minhas linhas, rasgas todas as minhas cartas em pedacinhos quase microscópicos, separas as letras de cada palavra, misturas e lanças tudo ao vento.
e tu? porque é que ainda insistes em percorrer o meu ser? comandas todos os átomos do meu pensamento e apareces diante dos meus olhos entre memórias passadas, memórias há muito enterradas e que tu queres a todo o custo trazer de volta à superfície do meu sofredor coração. fazes a tua voz ecoar nos meus ouvidos horas a fio, sem permitir que me esqueça de ti por um segundo que seja. agitas o meu coração, provocas um motim entre os meus glóbulos brancos e os vermelhos -uns amam-te e querem a tua presença, outros rezam para que o destino te leve para longe de mim- e fazes renascer as lágrimas que percorreram o meu rosto durante tanto tempo.
como podes continuar a provocar-me este cruel sofrimento? não te chega o que fizeste? eu vivia de ti. eras o ar -puro- que eu respirava, eras a luz que iluminava o meu pensamento, o meu abrigo em dias de tempestade, o meu farol quando eu andava perdida no meio do mar, a minha força quando a única coisa que eu queria era desaparecer. e subitamente, vi-me no mundo sozinha. os pilares que me sustentavam tinham caído, a corda que me segurava rompera-se, a mão que me agarrava desaparecera e a minha queda -naquele buraco de que eu tanto medo tinha- era inevitável.
e agora, passado tanto tempo continuas a assombrar-me. tens medo, não é? medo que eu venha a gostar mais de alguém do que algum dia gostei de ti. mas não tens o direito de me fazer isto. foste embora de livre e espontanea vontade, e agora não me deixas seguir com a minha vida? deixa-me partir, por favor. deixa-me viver aquilo que perdi por tua causa, deixa-me ser feliz com alguém, amar e ser amada. liberta o meu coração e todo o meu eu. deixa-me mandar-te para um canto escuro do meu coração e um dia mais tarde recordar-te. ou então, vou ter de te expulsar de mim e aí, passarás a ser um zero para mim, e um zero é sempre um zero.